quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Postumo

Levou a mão direita para o lado esquerdo do peito e agarrou com força, mas de nada adiantou. Sua vida já estava no fim. Com um último suspiro, tudo escureceu em sua volta e seu corpo caiu duro no chão.

Uma luz surgiu por um buraco bem pequeno. Deslizou por este buraco e ao observar ao redor, viu o seu corpo no chão. Não tinha mais corpo. Estava livre. Mas ele não pôde entender isso tão cedo. Apenas lembrava de coisas que aconteceram durante vários anos de sua vida e acompanhava o seu corpo de longe. Observou sua família toda em volta de seu corpo, uma ambulância o levando para uma igreja, seu funeral e seu próprio sepultamento.

Ficou próximo de seu corpo por aproximadamente cinco anos, pois não sabia o que fazer. Ele apenas estava lá. Apenas "era".

Certo dia se deu conta do que havia acontecido. Saiu de perto de seu corpo e vagou mundo afora, buscando sentido para a sua... vida? Não sabia exatamente o que era, mas sabia que não era vivo. Tudo o que ele podia fazer a partir daquele momento era vagar, sem nenhum foco, sem nada. Após a sua morte nada mais parecia fazer sentido.


As vezes ele reparava que algumas crianças podiam o enxergar. Mas não podia fazer nada além de ser.

Ser? Afinal de contas, ser o quê?

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Para sempre.

Desde pequeno, Josias é apaixonado por música. Vivia fazendo barulho em tudo quanto é coisa. Copo, varal, revista, garrafa. Em suas mãos, tudo era válido como instrumento musical. Sua mãe logo reparou que o garoto tinha algo diferente e o matriculou em uma escola de música.

Josias foi ao céu.

Violão, flauta, piano, bateria, baixo, acordeon. Tudo estava ao seu alcance. Começou dominando os instrumentos de sopro, foi de gaita de boca à gaita-de-fole. Depois passou pelas cordas, de quatro para seis, de seis para dez e de dez para doze delas. Cada instrumento com sua sonoridade específica. Não se deu muito bem com a percussão, pois era melhor com os dedos do que com toda a mão.

Anos se passarem e Josias virou compositor. Sinfonias, serenatas e baladinhas de amor. Compôs junto de grandes nomes do meio musical. Era grande o talento de Josias.

De tão apaixonado pela música, pelo som, passou por várias mulheres, mas com nenhuma se casou. No fim de seus dias, já muito fraco e cansado, o velho Josias abraçou o seu cavaco. E o tocou. Horas se passavam e ele sorria e tocava. A noite entrou e ele não parou, muito pelo contrário, intensificou e diversificou os instrumentos.

O dia nasceu e Josias adormeceu. Deixando para trás uma história de amor com pautas, acordes, notas, cordas. Todos misturados em uma grande composição chamada vida.

Diversas de suas canções, anos depois, foram regravadas com várias versões diferentes, como forma de homenagem. Josias ainda vive, em suas músicas e em vários corações.





quarta-feira, 17 de abril de 2013

Loucura

Jorge apertou um botão que se encontrava na parede, em cima dele.

Após cinco minutos, entraram dois enfermeiros em seu quarto. Um carregando um remédio injetável e outro apenas sorria.

- Jorge, agora preciso que você fique calmo e conte até 10, ok?

- Mas o quê está acontecendo, a quanto tempo estou aqui? Quem são vocês? Aonde eu estou?

- Calminha Jorge, tudo ficará bem...

Assim, um dos homens segurou o braço de Jorge e o outro aplicou a injeção diretamente em sua veia. Jorge ficou calmo, sem pensar em nada, dopado. 

- Agora escute, meu amigo. Isto aqui é um hospital psiquiátrico. Você foi encontrado gravemente ferido na rua e foi encaminhado ao hospital em estado de coma. Você balbuciava coisas sem sentido. Sua mulher disse que você estava agindo de maneira estranha ultimamente, assim, ao melhorar, te encaminharam para cá. Mas tudo virá a tona.

Jorge conseguiu entender o que ele quis dizer, e perguntou:

- Mas, e o Carlos? E o Assassino? Alguém fez algo sobre isso? O que aconteceu?

- Amigo, tenho algo pra te falar. Aquele acidente que você escreveu sobre, com a morte do filho do governador e a cunhada dele? Parece que prenderam o assassino. 

- E o terceiro corpo? De quem era?

- Não era do assassino, como todos acreditavam. Aquele corpo estava lá pois o assassino não queria ser descoberto, então, fez parecer como se aquele homem fosse o criminoso. O corpo era de um tal de Roberto, nada de muito destaque. Triste fim para aquele sujeito.

Jorge estava voltando à sua consciência. Concluiu que estava ficando louco, que por quase tudo que passou naqueles dias era mentira, era apenas coisa de sua cabeça.

Mas ainda restava saber, quem matou Carlos? Quem é o assassino?

Antes que tivesse a chance de perguntar isso aos enfermeiros, eles se retiraram e uma figura estranha entrou em seu quarto. Parecia uma visita.

Fim da parte 8.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ilusão?

"Merda, isso não pode estar acontecendo comigo", pensou Jorge enquanto tentava se recuperar de toda aquela agitação em sua vida.

Enquanto seguia está linha de pensamento, ele estava ciente de que voltaria para casa e não encontraria ninguém la, mandou sua mulher e seu filho irem para um hotel bem longe dali. Estava indo para a casa de Carlos, conversar com sua esposa. Ao parar no sinal, um carro inteiro preto parou ao seu lado, os vidros se abaixaram. Duas pessoas mascaradas apontaram para ele, mostraram as armas e atiraram. Deram vários tiros e partiram.

Jorge teve força para abrir a porta e cair para fora do carro. Sua visão ia se apagando, mas teve forças para ver o bilhete escrito "Sorria" em vermelho, antes de apagar. A polícia chegou ao local e o encaminhou para o hospital. Ligaram para sua família e seus amigos. Todos se apressaram para ir ao hospital. Após alguns minutos, Jorge entrou em coma. E nesse estado ficou, por mais de 15 dias.

Ao abrir os olhos, depois de todo esse tempo, Jorge enxergava tudo embaçado e com poucos traços. Enxergou um homem alto, sentado ao pé de sua cama. Estava trajado como se estivesse indo para uma festa elegante e sorrindo feito uma criança após ganhar algo que tanto desejava.

O homem olhou no fundo de seus olhos e disse:

- A curiosidade matou o gato, Jorge. E parece que suas sete vidas estão acabando. Pare de se meter, ou se não...

Jorge limpou os olhos, aquele homem não estava lá.

O que estaria acontecendo?


Fim da parte 7.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Esclarecimento.

Enquanto a esposa de Jorge tentava o acordar, ele estava tendo um pesadelo horrível.

Jorge se encontrava em um longo corredor. Caminhava aflito por ele, tentando abrir todas as portas por que passava, mas não obtinha sucesso algum. Escutou risadas atrás dele, olhou e se espantou. Carlos estava abraçado no assassino que todos acreditavam que estava morto. Os dois estavam com uma máscara vermelha e uma camisa social manchada de sangue. Caminhavam lentamente na direção de Jorge, sempre rindo. Atrás deles, um desconhecido trajava a mesma roupa, porém ele estava calado, apenas andava.

Jorge começou a correr, mas o corredor só parecia aumentar, não havia fim algum. De repente, em sua mão, surgiu uma arma. Apontou ela para os sujeitos e ela não funcionou. O gatilho travou. Ao abaixar a arma e ela ficar virada para o seu pé, ele sentiu o gatilho destravando e então compreendeu o que devia acontecer.

Apontou a arma para sua cabeça, respirou fundo, click.

Abriu os olhos. Estava encharcado de suor, respirava rápido e sua cabeça explodia de dor. Se encontrava em seu quarto, com um copo d'água em seu criado mudo.

Sua cabeça trabalhava rapidamente, aquele pesadelo não foi a toa. Ele significava algo.

Fim da parte 6.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Descanse em paz.

Jorge sabia que o pior estava para acontecer. Após a polícia chegar em sua casa, a imprensa e todos os curiosos, ele só queria dormir.

Entrou em casa, subiu as escadas, foi para o quarto, se deitou. Pouco tempo depois, estava desmaiado.
Sonhou com coisas das quais preferiu não comentar. Coisas que só ele entendia e tinha vergonha de tal compreensão.

Ao acordar, notou um silêncio incomum em sua casa. Não escutava o barulho da televisão no andar de baixo, ou o barulho do seu filho brincando. Saiu da cama e foi correndo para a escada. Tropeçou e caiu por ela, parando apenas no primeiro andar. Desmaiou.

Acordou no mesmo lugar, horas depois, com um sangue seco em sua roupa. Levantou rapidamente, mas foi surpreendido por uma tontura. Se apoiou na parede e caminhou lentamente para a cozinha. Não havia ninguém em casa.

Ao abrir a porta, se deparou com uma trilha de sangue que se seguia até a porta do seu carro. Espantado, Jorge acompanhou a trilha. Espiou pela janela do motorista e sentiu uma grande tontura. Desmaiou novamente.

Sua esposa chegou do mercado, o avistou no chão e correu para ver o que havia acontecido. Quando olhou para dentro do carro, não pode acreditar. Se ajoelhou ao lado de seu marido e tentou acordá-lo, mas foi infeliz em sua tentativa.

O corpo dentro do carro era do Carlos.

Fim da parte 5.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Surpresa.

Jorge estava afoito. Tirou o celular do bolso e ligou para Carlos, que era o seu chefe.

- Jorge, são três horas da manhã e você me acordou. O que você quer? 

- Carlos, sou eu, Jorge. Você precisa me ajudar. Se lembra daquele problema que tumultuou a cidade no ano retrasado?

- Lembro sim. O assassino morreu e caso encerrado.

- Acho que tem uma falha nisso. Pode vir na minha casa?

- Agora?

- Sim. Você vai querer ver isso.

- Espero que seja importante...

Jorge escutou o telefone de Carlos desligar. Agitado, ele entrou e viu sua esposa dormindo. Se esforçou o máximo para não fazer barulho algum. Pegou sua câmera, seu bloco de anotações e sua caneta. Saiu de casa e correu para a marca de pneu que o sedan preto havia deixado em frente à sua casa. 

Enquanto fotografava o local, seu chefe acabara de chegar. Ele saiu do carro, ainda de pijamas, acendeu um cigarro e caminhou até Jorge.

- Ainda bem que você chegou. Olhe isso.

Carlos abriu a boca e deixou o cigarro cair. 

- Você já chamou a polícia? 

- Ainda não. Quis registrar tudo antes deles chegarem.

- Ótimo. Não consigo acreditar no que vejo...

Eles estavam olhando para uma foto onde Jorge observava os corpos do acidente recente. E preso à foto, um bilhete com a palavra "Sorria" escrita em vermelho.

Este bilhete era característica do assassino, que até então, eles acreditavam que estava morto.


Fim da parte 4.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Suspeitas

O jornalista saiu da cena do crime e entrou em seu carro.

Se encostou no banco, acendeu um cigarro e matutou por horas, tendo o seu raciocínio quebrado por uma ligação em seu celular.

- Alô?

- Jorge, aonde você está?

- Amor, já estou voltando para casa. Aconteceu algo?

- Um barulho estranho do lado de fora da casa amor. Volta logo, estou com muito medo...

- Fique tranquila, estou indo.

Jorge ligou o carro e pisou fundo. Seu coração havia desparado, pois o que ele menos aguardava era uma ligação de sua mulher.

Ele estava revirando a sua mente, em busca de algo que fizesse conexão com o que acabara de ver. Aqueles corpos, o seu vizinho, tudo estava muito estranho e nada fazia sentido.

Já na rua de sua casa, Jorge viu um sedan preto sair muito rápido da frente da sua casa.

Ele estacionou, desceu do carro e acendeu outro cigarro. Se lembrou de algo que possa ser importante para este caso.


Fim do skit #1.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A vizinhança

Era noite de véspera de Natal. O homem gordo não estava nem um pouco animado com a data, pois tinha terminado o seu casamento recentemente. Ele fechou a cortina de seu quarto, descalçou as pantufas e se deitou. Se lembrou de como adorava as noites que antecediam o Natal, de como se fantasiava de Papai Noel e  fazia sempre uma surpresa diferente para o seu filho.

Quando estava quase adormecendo, o barulho de vidro quebrando em sua cozinha o acordou, assim, ele alcançou um grande bastão de ferro que guardava em baixo de sua cama. Caminhou lentamente para a cozinha, e parou no corredor ao ouvir uma conversa.

- Cara, tem certeza que ele mora aqui?

- Claro que tenho. Você não viu a foto dele com a ex-mulher em cima da bancada? Se liga porra!

- Beleza. Mas não se esqueça, sem vestígios.

Ao ouvir a conversa, o homem, assustado, percebeu que o problema era mais sério. Voltou para o seu quarto, pegou o revólver que estava escondido dentro do armário, e ficou parado na porta, apontando para o fim do corredor. Segundos depois, o primeiro invasor apareceu, viu o homem e logo se rendeu, mas o homem não saiu de seu lugar até o segundo invasor aparecer.

Então, um explosivo não muito forte estourou dentro da cozinha. O homem se assustou e derrubou a arma, nisso, os dois invasores avançaram contra ele. Ele foi mais rápido, conseguiu derrubar um deles, mas o outro  invasor logo pegou uma faca e o furou na lateral de sua barriga. O invasor se preparou para investir outro golpe, mas o  homem conseguiu alcançar o pedaço de ferro que havia deixado em cima de sua cama. Então, deu um golpe forte na cabeça do invasor que o esfaqueou, e na do outro invasor que já estava se levantando. Ele bateu tanto, que deixou os invasores irreconhecíveis. Logo reparou no que havia feito.

Precisava sair daquela casa o mais rápido possível, pois sabia que mais pessoas viriam atrás dele. Arrumou uma mala, colocando apenas algumas roupas, vários papeis que escondia em um fundo falso dentro de seu guarda-roupas e o revólver que estava no chão. Ao terminar, ensacou os homens em um grande saco e outra explosão, dessa vez, no quarto do seu filho.

Sorte que ele mora com sua mãe agora, pensou o homem. Pegou a mala,arrastou o saco do jeito que pode, outra mala com documentos, correu até o carro, jogou tudo no porta malas e foi embora.

Fim da parte 3.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Recordação

Aquele dia, a criança corria de um lado para o outro à espera do Papai Noel.

- Vai dormir filho, o Noel só entrega presente para quem dorme cedo.

- Mas Pai, será que ele vem mesmo? Você tem certeza?

- Tenho sim filho, agora vá dormir.

Então, a criança logo se deitou e apagou.

Enquanto isso, o seu pai deixava os presentes embaixo da árvore de natal, fazendo silêncio para não acordar ninguém, mas, este silêncio foi quebrado por um barulho estrondoso do lado de fora de sua casa. 
Então, o adulto abriu as cortinas da sala para tentar ver o que estava acontecendo. Parecia vir da casa de seu vizinho.

Enquanto ele tentava entender algo, a criança saiu da cama, passou despercebida por seu pai, abriu a porta com o maior cuidado do mundo e foi para o jardim. Enquanto caminhava de um lado para o outro, olhando para todos os lados, outro barulho. Desta vez foi bem próximo à ele, e veio da casa de seu vizinho.

Ele correu para o arbusto que separava sua casa e a do vizinho, espiou entre ele e enxergou um homem grande, arrastando um saco de lixo que parecia estar carregado de coisas muito pesadas. O homem entrou em seu carro, colocou algumas malas e o saco no porta malas e foi embora, assim, abandonando a casa.

Esta foi a última vez em que o jornalista veria o seu vizinho.

Fim da parte 2.